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Texto: DESENVOLVIMENTO RUMINAL E DIETAS SÓLIDAS

  • Publicado: Quarta, 09 de Junho de 2021, 10h48
  • Última atualização em Quarta, 09 de Junho de 2021, 10h58

DESENVOLVIMENTO RUMINAL E DIETAS SÓLIDAS

Nilson Felipe Barros Rodrigues1, 2 e Larissa Matias Lopes1, 2

1 Graduando (a) em Medicina Veterinária, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Instituto de Estudos do Trópico Úmido (IETU), Rua Alberto Santos Dumont, s/n, Bairro: Jardim Universitário | CEP: 68557-335 | Xinguara-PA.

2 Grupo de Estudos em Bovinocultura do Instituto de Estudos do Trópico Úmido (BovIETU).

Os ruminantes apresentam o estômago dividido em quatro compartimentos: rúmen, retículo, omaso e abomaso. Os três primeiros, também chamados de pré-estômagos ou proventrículos, abrigam microrganismos fermentadores (OLIVEIRA et al., 2013). Já o abomaso ou estômago verdadeiro, equivale ao estômago dos monogástricos e possui o epitélio revestido por mucosas glandulares secretoras de ácido, muco e hormônios que são responsáveis pela digestão química (OLIVEIRA et al., 2019).

Quando nascem, os ruminantes ainda não possuem os pré-estômagos bem desenvolvidos, nesta fase são chamados de pré-ruminantes. Com base no peso úmido, os proventrículos representam 39% do total dos estômagos, apresentando ausência de microrganismos e as papilas rumino-reticulares e folhas omasais ainda muito rudimentares (REECE, 2017), portanto é preciso desenvolver estes compartimentos em termos de estrutura e tamanho (CARVALHO et al., 2003).

Nos ruminantes jovens o abomaso é o único estômago funcional. No período de aleitamento, o estímulo da sucção no ato de mamar provoca um reflexo que leva a musculatura lisa presente no rúmen e retículo a formar um sulco por onde o leite, do esôfago, é desviado diretamente ao abomaso sem passar pelo rúmen que ainda está em formação. Esse mecanismo é chamado de goteira esofágica. A introdução de alimentos sólidos na dieta faz com que a goteira esofágica pare gradativamente de funcionar dando início ao desenvolvimento ruminal com a colonização de bactérias no rúmen (SCHOLZ et al., 2011). Do ponto de vista nutricional, esta é a fase mais crítica dos ruminantes, pois os bezerros apresentam limitações enzimáticas e ausência de síntese microbiana, que os tornam animais mais exigentes em termos nutricionais (ROCHA et al., 1999; ITAVO et al., 2007).

O desenvolvimento dos bezerros à condição de ruminantes funcionais envolve uma série de mudanças.  As bactérias do rúmen utilizam o substrato disponibilizado pelo consumo de alimentos sólidos para se desenvolver, promovendo mudanças anatômicas e fisiológicas no trato gastrointestinal dos animais (CARVALHO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2019). É importante ressaltar que o tamanho dos estômagos se difere entre os ruminantes recém-nascidos e os adultos. Em bezerros, os pré-estômagos são menores que o abomaso, já em ruminantes adultos o rúmen ocupa a maior porção da cavidade abdominal do animal (Figura 1), apresentando volume gástrico total correspondente a mais de 90% do trato digestivo (CARVALHO et al., 2003; CAETANO JÚNIOR et al., 2016; OLIVEIRA et al., 2019), porém a velocidade em que ocorre esse crescimento depende da dieta ofertada ao animal (OLIVEIRA et al., 2019).

 

 

 Figura 1. Desenvolvimento dos pré-estômagos da primeira semana ao animal adulto.

Fonte: http://www.bibliotecas.sebrae.com.br

 O tipo de alimento consumido pelo animal, influencia no desenvolvimento estrutural e no tamanho do rúmen (BERCHIELLI et al., 2006). O desenvolvimento anatômico do rúmen está associado ao consumo de alimentos volumosos (forragens), enquanto que o desenvolvimento fisiológico está mais relacionado com o consumo de alimentos concentrados, e consequentemente, com a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) que são absorvidos pelas paredes do rúmen, formando as papilas ruminais (CAETANO JÚNIOR et al., 2016, OLIVEIRA et al., 2019).

Além de auxiliar no desenvolvimento da musculatura rúmen-retículo, a ingestão de volumosos permite que o pH do rúmen se mantenha adequado (5,5 a 6,8) para o estabelecimento da microbiota ruminal (OLIVEIRA et al., 2007). Em contrapartida, os AGV produzidos pela ação fermentativa dos microrganismos ruminais, promovem o aumento da atividade metabólica ruminal (ANDERSON et al., 1987; COSTA et al., 2003).

Os AGV produzidos no rúmen pela fermentação microbiana são a principal fonte de energia para os ruminantes. Dentre os principais, podemos destacar o acetato, o propionato e o butirato (BERCHIELLI et al., 2006), no qual este último é o AGV que mais influencia o desenvolvimento das papilas ruminais, seguido pelo propionato e acetato (OLIVEIRA et al., 2007; SANTOS, 2008).

O fornecimento de dieta sólida para ruminantes logo após o nascimento, favorece o máximo desenvolvimento do rúmen, retículo e omaso, diferentemente do que ocorre com animais que recebem apenas leite ou sucedâneos, pois permanecem com os pré-estômagos rudimentares mesmo com 14 e 15 semanas de vida (HERDT, 2004). É importante, também, que o alimento volumoso oferecido ao bezerro seja de boa qualidade, pois a ingestão de fibra de baixa qualidade pode ocasionar a queratinização da mucosa e o mal desenvolvimento das papilas ruminais, prejudicando a absorção de nutrientes no rúmen (OLIVEIRA et al., 2019).

É fundamental que também seja oferecido água de bebida juntamente com a dieta sólida. A água ajuda na melhor utilização do alimento, facilitando a mastigação e a deglutição, assim como nos processos de digestão, auxiliando na homogeneização e transporte da dieta pelo trato gastrointestinal (FURLAN et al., 2011). Além disso, as bactérias fermentadoras presentes no rúmen, necessitam de um ambiente aquoso para sobreviver, caso contrário, sua população não será estabelecida, prejudicando o desenvolvimento ruminal (LIMA et al., 2013).

Assim, podemos dizer que o desenvolvimento dos pré-estômagos de ruminantes pode ser dividido em três fases:

Fase

Período

Pré-ruminante

0 a 3 semanas

Transição

3 a 8 semanas

Ruminante funcional

Após 8 semanas

 

Após oito semanas de vida, os animais que têm acesso a alimento sólido já apresentam as proporções dos estômagos semelhantes à de animais adultos (HERDT, 2004).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDERSON, K.L.; NAGARAJA, T.G.; MORRILL, J.L. Ruminal metabolic development in calves weaned conventionally or early. Journal of Dairy Science, v.70, n.5, p.1000-1005, 1987.

BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. 583p.

CAETANO JUNIOR, M.B.; CAETANO, G.A.O.; OLIVEIRA, M.D. A influência da dieta no desenvolvimento ruminal de bezerros. Revista Eletrônica Nutri-Time, v.13, n.6, p.4902-4918, 2016.

CARVALHO, P.A.; SANCHEZ, L.M.B; VIÉGAS, J.; VELHO, J.P.; JURIS, G.C.; RODRIGUES, M.B. Desenvolvimento de estômago de bezerros holandeses desaleitados precocemente. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1461-1468, 2003.

COSTA, R.G.; RAMOS, J.L.F.; MEDEIROS, A.N.; BRITO, L.H.R. Características morfológicas e volumétricas do estômago de caprinos submetidos a diferentes períodos de alimento. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.40, supl. 2, p.118-125, 2003.

FURLAN, R.L.; MACARI, M.; FARIA FILHO, D.E. Anatomia e fisiologia do trato gastrintestinal. In: BERCHIELLI, T.T. (Ed.) Nutrição de ruminantes. Jaboticabal: Funep, 2006. p.583.

HERDT, T. Fisiologia gastrointestinal e metabolismo. p.231 In: CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária; Rio de Janeiro: 4ª ed., Guanabara Koogan, 2004. p.579.

ITAVO, C.C.B.F.; SOUZA, S.R.M.B.O.; DIAS, A.M.; COELHO, E.M.; MORAES, M.G.; SILVA, F.F.; Avaliação da produção de bezerros em confinamento ou em suplementação exclusiva. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.59, n.4, p.948-954, 2007.

LIMA, R.N.; MOURA, A.K.B.; MIRANDA, V.F.G.; LIMA, P.O.; MORAIS, J.H.G.; LOPES, K.T.L. Limitações da fisiologia dos animais em transição. PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária, v. 7, n. 3, art. 1496, 2013.

OLIVEIRA, J.S.; ZANINE, A.M.; SANTOS, E.M. Diversidade microbiana no ecossistema ruminal. Revista Eletrônica de Veterinária, v.8, n.6, p.1-12, 2007.

OLIVEIRA, V.S.; SANTANA NETO, J.A.; VALENÇA, R.L. Características químicas e fisiológicas da fermentação ruminal de bovinos em pastejo – Revisão de Literatura. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, v.19, n.20, p.1-21, 2013.

OLIVEIRA, V.S.; SANTOS, A.C.P.; VALENÇA, R.L. Desenvolvimento e fisiologia do trato digestivo de ruminantes. Ciência Animal, v.29, n.3, p.114-132, 2019.

REECE, W.O. Dukes | Fisiologia dos animais domésticos. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p.740.

ROCHA, E.O.; FONTES, C.A.A.; PAULINO, M.F. PEREIRA, J.C.; LADEIRA, M.M. Influência da idade de desmama e de início do fornecimento do volumoso a bezerros sobre a digestibilidade de nutrientes e o balanço de nitrogênio, pós-desmama. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.1, p.143-147, 1999.

SANTOS, L.C. Desenvolvimento de papilas ruminais. PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária, v. 2, n. 40, art. 387, 2008.

SCHOLZ, H. D.; GAI, V. F.; FAGUNDES, R. S.; TEIXEIRA, M. Desenvolvimento ruminal de bezerros holandeses submetidos a diferentes dietas. Cultivando o saber, v. 4, n. 2, p. 154-163, 2011.

 

 

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